Esta crônica que é parte da história de Israel, pela determinação divina, entrou no Cânon assim como os discursos dos amigos de Jó (42.7), as afirmações do autor de "debaixo do sol" (Ec 3.19) e a fala da mulher de Tecoa (2 Sm 12.2-21), que são palavras e conceitos meramente humanos. A confusão gerada pelo assunto exposto no texto é porque foi analisado o ponto de vista do servo de Saul. Todavia, sobre a questão se Samuel falou ou não com Saul, a Bíblia é bem clara e tem argumentos definidos para desmentir todas e quaisquer afirmações hipotéticas e asseverações parapsicológicas a seu respeito. Examinaremos alguns desses argumentos e veremos a impossibilidade de ter sido Samuel a pessoa com quem falou Saul:
1.
Argumento gramatical (v.6): "... o Senhor... não lhe respondeu". O
verbo hebraico é completo e categórico. Na condição que Saul estava, Deus não
lhe responderia e não lhe respondeu. O fato é confirmado pela frase: "...
Saul... interrogara e consultara uma necromante e não ao Senhor...",
1 Cr 10.13,14.
2. Argumento exegético: v.6. Nem por Urim - revelação sacerdotal (w.14,18), nem por sonhos - revelação pessoal, nem por profetas - revelação inspiracional da parte de Deus. Fosse Samuel o veículo transmissor, seria o próprio Deus respondendo, pois Samuel não podia falar senão por inspiração. E, se não foi o Senhor, não foi Samuel.
3.
Argumento ontológico. Deus se identifica como Deus dos vivos: de Abraão, de
Isaque, de Jacó: Êx 3.15; Mt 22.32. Nenhum deles perdeu a sua personalidade e
sua integridade. Seria Samuel o único a poluir-se, contra a natureza do seu
ser, contra Deus e contra a doutrina que ele mesmo pregara (1 Sm 15.23), quando
em vida nunca o fez? Impossível.
4.
Argumento escatológico. O pecado de Samuel tomar-se-ia mais grave ainda, por
ter ele estado no "seio de Abraão", tendo recebido uma revelação
superior e conhecimento mais exato das coisas encobertas, e não tê-las
considerado, nem obedecido às ordens de Deus: Lc 16.27-31. Mas Samuel nunca
desobedeceu a Deus: 1 Sm 12.3,4.
5.
Argumento doutrinário. Consultar os "espíritos familiares" é
condenado pela Bíblia inteira. Logo, aceitando a profecia do pseudo-Samuel,
cria-se uma nova doutrina, que é a revelação divina mediante pessoas ímpias e
polutas. E, além disso, para serem aceitas as afirmações proféticas como
verdades divinas, é necessário que sejam de absoluta precisão; o que não
acontece no caso presente.
6.
Argumento profético: Dt 18.22. As profecias devem ser julgadas: 1 Co 14.29. E
essas do pseudo-Samuel não resistem ao exame. São ambíguas, imprecisas e
infundadas. Vejamos:
a) Saul
não foi entregue nas mãos dos filisteus (1 Sm 28.19), mas se suicidou (1 Sm
31.4) e veio parar nas mãos dos homens de Jabes-Gileade: 1 Sm 31.11,13.
Infelizmente, o pseudo-Samuel não podia prever este detalhe;
b) não
morreram todos os filhos de Saul ("... tu e teus filhos", 1 Sm 28.19)
como insipua essa outra profecia obscura. Ficaram vivos pelo menos três filhos
de Saul: Isbosete (2 Sm 2.8-10), Armoni e Mefibosete: 2 Sm 21.8. Apenas três
morreram, como anotam clara e objetivamente as passagens seguintes: 1 Sm 31.26
e 1 Cr 10.2-6;
c) Saul
não morreu no dia seguinte ("... amanhã... estareis comigo", 1 Sm
28.19). Esta é uma profecia do tipo délfico, ambígua. Saul morreu cerca de
dezoito dias depois: 1 Sm 30.1,10,13,17; 2 Sm 1.13. Afirmar que a palavra
hebraica "mahar" (amanhã), aqui, é de sentido indefinido, é torcer o
hebraico e a sua exegese, pois todos vão morrer mesmo, em "algum dia"
no futuro, isto não é novidade; d) Saul não foi para o mesmo lugar que Samuel
("... estareis comigo", 1 Sm 28.19). Outra profecia inversossímil:
interpretar o "comigo" por simples "além" (Sheol), é
tergiversar. Samuel estava no "seio de Abraão", sentia isso e sabia a
diferença que existe entre um salvo e um perdido. Jesus também o sabia, e não
disse ao ladrão que estava na cruz: "Hoje estarás comigo no além
(Sheol)", mas sim no "Paraíso". Logo, Samuel não podia ter dito
a Saul que este estaria no mesmo lugar que ele: no "seio de Abraão".
Porque com o ato abominável e reprovado de Saul em consultar uma feiticeira e
não ao Senhor, foi completamente anulada a sua possibilidade de ir para o mesmo
lugar de Samuel - o "seio de Abraão".
Ainda notamos este absurdo, analisando a palavra "médium" (heb), que é traduzida em outras versões por "espírito adivinhador" ou "espírito familiar" e no texto grego (LXX) por "engastrimuthos", que significa ventríloquo, isto é, um de fala diferente, palavra que indica a espécie de pessoa usada por um desses espíritos.
Assim concluímos que:
Ainda notamos este absurdo, analisando a palavra "médium" (heb), que é traduzida em outras versões por "espírito adivinhador" ou "espírito familiar" e no texto grego (LXX) por "engastrimuthos", que significa ventríloquo, isto é, um de fala diferente, palavra que indica a espécie de pessoa usada por um desses espíritos.
Assim concluímos que:
• Não foi
Samuel quem apareceu e falou com Saul, mas sim um espírito demoníaco.
• Nenhum
morto por invocação humana pode aparecer ou falar com alguém, e quanto mais
Samuel.
• Todas
as predições do pseudo-Samuel estavam deturpadas. Nada se cumpriu. Isto é um
verdadeiro contra-senso, visto que, Samuel quando em vida, "nenhuma só das
suas palavras caiu por terra". 1 Sm 3.19.
• Quem
pratica tais coisas, a saber, invoca os mortos, consulta necromantes, está
sendo logrado pelas artimanhas de Satanás.
• Deus é
Deus dos vivos e não dos mortos: Mt 22.32. Assim, aqueles que invocam os mortos
estão indo de encontro a essa lei básica e bíblica.
• Não
existe, portanto, neste trecho nenhuma similaridade ou abertura para supostos
fundamentos de doutrinas heréticas. Ademais, todos esses argumentos provam
categoricamente a impossibilidade de tais pensamentos. A Bíblia é a verdade.
Fonte: A Bíblia Responde
Edições CPAD
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