Em Ezequiel 26 e 27, temos algumas profecias específicas a respeito do porto marítimo fenício chamado Tiro, como a predição da destruição da principal parte dessa cidade por Nabucodonosor (26.6-11) e da parte insular, por Alexandre, o Grande, em 332 a.C. (26.3-5, 12-14). Os efeitos devastadores sobre o comércio e a prosperidade das várias cidades e nações que negociavam com Tiro estão delineados em 26.15-21 e por todo o capítulo 27.
As passagens que trazem as lamentações por causa da queda da cidade e a resultante ruína do comércio mundial apresentam um tema que é retomado em escala mais impressionante ainda em Apocalipse 18, que retrata todas as grandes cidades integrantes do forte intercâmbio comercial da Terra lamentando a repentina destruição da Babilônia dos últimos dias.

Esses antigos centros comerciais, portanto, quer falemos de Tiro, quer de Babilônia, tipificam o colapso da cultura materialista do mundo sem Deus, no fim dos tempos. Todos os luxos e riquezas mercantis, pelos quais as civilizações depravadas     venderam a própria alma, ser-lhes-ão arrebatados; esses povos nada terão para si senão desilusão e desespero. Há um sentido, portanto, no qual Tiro serve de símbolo apocalíptico da derrocada mundial na agonia final da Grande Tribulação.

A partir dessa perspectiva, analisemos o capítulo 28. O "governante" ou "líder" (nāgîḍ) de Tiro é mencionado em 28.2, em que diz: "Sou um deus; sento-me no trono de um deus no coração dos mares...". E Deus lhe retruca: "... não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus". Em outras palavras, em seu orgulho e loucura, esse governador de Tiro colocou-se, com seus interesses materiais, acima da vontade e da glória de Deus. Em seu devaneio, ele se imaginou mais importante que o Criador e Soberano do Universo — que é como se sente todo ser humano que não se reconciliou com Deus nem aceitou seu senhorio.

Tiro se havia tornado cidade conhecida proverbialmente pela sua sagacidade comercial e pelo brilhante sucesso na perseguição dos bens materiais. E diz o Senhor ironicamente: "você, és mais sábio que Daniel? Não haver segredo que lhe seja oculto?" (v. 3). Nenhuma outra cidade comercial poderia exceder a Tiro na aquisição dos luxos e tesouros que o dinheiro pode comprar, e foi essa supremacia financeira que o mundo insensato considerou a verdadeira sabedoria. Tão grande sucesso havia levado o povo de Tiro à loucura da autodeificação. Imaginaram que suas riquezas poderiam comprar-lhe segurança e poder sem a necessidade de proteção ou favor divinos. "... Porque você pensa que é sábio, tão sábio quanto Deus [isso é, imagina que é divino, e que domina completamente o seu destino], trarei estrangeiros contra você, das mais impiedosas nações [isso é, os caldeus, sob Nabucodonosor...]" (v. 6, 7).

Ezequiel 28.12-15 descreve a ilusão da auto-adulação em que Tiro se perdera. Diz o Senhor ao rei de Tiro: "... Você era o modelo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeita beleza. Você estava no Éden, no jardim de Deus; todas as pedras preciosas o enfeitavam: sárdio, topázio e diamante, berilo, ônix..." (v. 12, 13). Em outras palavras, o paraíso que Tiro desejava era o gozo ilimitado dos tesouros materiais mais preciosos que o dinheiro pode adquirir. Tendo tais riquezas, julgavam estar desfrutando o céu na terra. Prossegue o versículo 14: "Você foi ungido como um querubim guardião, pois para isso o designei. Você estava no monte santo Deus e caminhava entre as pedras fulgurantes" [i.e., Deus havia favorecido Tiro com essa prosperidade sem paralelo em que agora a cidade baseia sua megalomania];

Os habitantes de Tiro se imaginavam acima de qualquer repreensão em seu padrão moral, pois consideravam a riqueza como recompensa e certificado de perfeição — quando se considera a ética que realmente tinha valor no mundo endurecido dos homens de negócio. "Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se adiou maldade em você" (v. 15).

Só quando a orgulhosa cidade finalmente sucumbiu perante os aríetes dos guerreiros que  a pilhariam, vindos da Babilônia, é que descobriram o quanto estiveram enganados a seu próprio respeito. Haviam julgado estar tranquilamente postos a salvo no cume do monte de Deus (ou de seu próprio deus, Baal); mas foram atirados dessa montanha pelo julgamento justo de Iavé e imersos nas profundezas de uma derrota humilhante.

Não há a menor possibilidade de identificar o líder de Tiro, ou seu rei, como algum monarca específico da dinastia fenícia. À semelhança do "rei da Babilônia" de Isaías 14, esse "rei" serve como símbolo ou personificação do governo e do povo de Tiro. No que concerne a um relacionamento com Satanás, não parece haver qualquer evidência decisiva no texto de que o príncipe do Inferno esteja sendo mencionado na pessoa do príncipe de Tiro. Dificilmente haveria um versículo, pelo menos, que pudesse ser aplicado somente ao Diabo, em vez de aos governantes humanos dessa cidade. É certo que a teoria proposta por alguns autores de que esse capítulo contém alguns quadros vividos da carreira pessoal de Satanás antes de sua rebelião e expulsão do céu, não passa, quando muito, de uma conjectura destituída de base sólida. A linguagem hiperbólica empregada nos versículos que estudamos acima pode ser entendida melhor como sendo a auto-adulação vaidosa, a autoilusão dos milionários de Tiro e de seus líderes amantes do dinheiro, cujo conceito de céu não via além de seus tesouros de rubis e ouro, uma medida de virtude baseada na riqueza material. No entanto, deve-se entender com clareza que, em um sentido real, toda cultura comprometida com os valores materialistas está sob o domínio de Satanás e exerce influência na promoção de sua causa. Mas também irá participar do julgamento e destruição eterna do Diabo (Ap 20.10).



(Extraído do livro "Enciclopédia de Temas Bíblicos")

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