O exército assírio tinha passado sobre a Síria e Israel como um rolo
compressor, e depois atacou Judá, conquistou todas as suas cidades fortificadas
e cercou Jerusalém. Senaqueribe, o rei assírio, escreveu em suas próprias
crônicas que tinha fechado Ezequias (rei de Judá) como um pássaro numa gaiola.
A conquista assíria de Jerusalém, capital de Judá, parecia inevitável.
Contudo, uma vez que o monarca assírio precisava lutar em outras frentes de batalha, ele preferiu simplesmente intimidar os israelitas para que se rendessem. Ele enviou Rabsaqué, seu principal oficial, a Jerusalém para começar uma campanha de propaganda destinada a persuadir os homens de Judá a desistir sem lutar. Três capítulos registram o discurso de Rabsaqué: 2 Reis 18; 2 Crônicas 32 e Isaías 36. O discurso foi engenhado para motivar os cidadãos de Jerusalém e os dirigentes da cidade a julgar sua situação sem esperança e permitir aos assírios tomar a cidade. A tática assíria se parece com as técnicas que Satanás usa conosco em suas tentativas para nos levar a ceder e a servi-lo. Observemos as técnicas que Senaqueribe usou com os judeus para ganharmos compreensão de nossas batalhas espirituais modernas.
Exagerou o próprio poder
Os assírios engrandeceram seu próprio poder e
grandeza. "Então,
Rabsaqué se pôs em pé, e clamou em alta voz em judaico, e disse: Ouvi as
palavras do sumo rei, do rei da Assíria. Assim diz o rei: Não vos engane
Ezequias; porque não vos poderá livrar. Nem tampouco Ezequias vos faça confiar
no Senhor, dizendo: O Senhor certamente nos livrará, e esta cidade não será
entregue nas mãos do rei da Assíria" (Isaías 36:13-15). Observe que
Rabsaqué chamou o rei da Assíria "o sumo rei". Ele queria que os judeus
acreditassem que seu poder era irresistível e portanto entregassem a luta.
Do mesmo modo o diabo procura nos convencer que
seu poder é maior do que nossa capacidade de resistir. Exagerando sua força,
Satanás nos leva a desculpar nossos atos e a negar responsabilidade pessoal
pelo que fazemos: "Afinal, dada a força da tentação, como poderia eu
esperar fazer melhor?" Para derrotar a tentação precisamos ver o poder de
Deus. Como Pedro, quando começamos a olhar para o vento e para as ondas, nós caímos;
mas quando mantemos olhos fixos em Jesus, ficamos firmes (Mateus 14:22-33). "Se Deus é
por nós, quem será contra nós?" (Romanos 8:31). Deus nos equipa para ficarmos firmes e
resistirmos aos avanços do diabo: "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para
poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo" (Efésios 6:11). A fé em Deus nos
escuda contra "todos os dardos inflamados do Maligno" (Efésios 6:16). Não há tentações
irresistíveis (1 Coríntios 10:13), porque Deus é mais forte do que Satanás: o
Senhor é "o sumo rei".
Inverteu a verdade e o erro
Ezequias instituiu amplas reformas na adoração.
Ele baniu a idolatria e se opôs à adoração nos lugares altos porque Deus queria
que a adoração fosse oferecida somente em Jerusalém (Deuteronômio 12).
Senaqueribe usou estas reformas como ponto de partida para atacar e
desacreditar Ezequias. Talvez o departamento de inteligência assírio tivesse
detectado descontentamento entre os israelitas pelas reformas de Ezequias. Sua
oposição a adoração (de ídolos e nos lugares altos) certamente deixou alguns
dos judeus se sentindo inseguros. Assim, Rabsaqué argumentou: "Acaso, não
vos incita Ezequias, para morrerdes à fome e à sede, dizendo: O Senhor, nosso
Deus, nos livrará das mãos do rei da Assíria? Não é Ezequias o mesmo que tirou os
seus altos e os seus altares e falou a Judá e a Jerusalém, dizendo: Diante de
apenas um altar vos prostrareis e sobre ele queimareis incenso?" (2
Crônicas 32:11-12).
Ainda hoje Satanás ataca as tentativas de volta
ao padrão de Deus e de oposição a falsa religião. Ele inspira os modernos
conceitos de tolerância, segundo os quais todos os caminhos são certos, toda
adoração é boa, e toda crença é válida. Ele faz com que aqueles que se opõem a
religião humana e a doutrina dos homens pareçam maus sujeitos. O diabo é mestre
na arte de chamar de mau o que é bom, e de bom o que é mau (Isaías 5:20).
Precisamos ter a coragem de nos opormos ao erro mesmo quando somos difamados
por fazermos isso.
Declarou ter aprovação de Deus
Os assírios declararam que Deus os tinha enviado
para vencer Ezequias: "Acaso, subi eu, agora, sem o Senhor contra este lugar, para o
destruir? Pois o Senhor mesmo me disse: Sobe contra a terra e destrói-a" (2
Reis 18:25). Os falsos mestres afirmam tipicamente que têm autorização de Deus.
Nos dias de Jeremias, o falso profeta Hananias predisse com confiança a volta
dos cativos e falou com autoridade pela "palavra do Senhor": "Assim fala o
Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, dizendo: Quebrei o jugo do rei da
Babilônia. Dentro de dois anos, eu tornarei a trazer a este lugar todos os
utensílios da Casa do Senhor, que daqui tomou Nabucodonosor, rei da Babilônia,
levando-os para a Babilônia. Também a Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá,
e a todos os exilados de Judá, que entraram na Babilônia, eu tornarei a trazer
a este lugar, diz o Senhor; porque quebrei o jugo do rei da Babilônia" (Jeremias 28:2-4). A ousadia e
especificidade desta "profecia" tinha ares de verdade; ela foi dita
no estilo das verdadeiras palavras de Deus e era por demais convincente. Mas
era falsa.
Satanás é convincente e é o mestre do disfarce
(veja Mateus 7:15-16; 2 Coríntios 11:13-15). Ele afirma suas mentiras tão
ousada e precisamente que são facilmente acreditadas. Precisamos não permitir
que a confiança dos falsos mestres nos engane. Todos os mestres e ensinamentos
precisam ser testados à luz da palavra de Deus (1 João 4:1; Gálatas 1:8-9).
Nenhum Rabsaqué que venha ousadamente afirmando que o Senhor o enviou é
verdadeiramente de Deus. A Bíblia é nosso modelo e qualquer ensinamento que não
está à sua altura deve ser rejeitado, não importa quão autorizado possa
parecer.
Prometeu bênçãos
Rabsaqué estava tentando fazer com que os
israelitas quisessem render-se. Ele poderia ter declarado que a rendição deles
não levaria ao cativeiro, mas eles não teriam acreditado nele porque a política
assíria de exilar as nações conquistadas era bem conhecida. Assim, ele fez uma
abordagem diferente. Ele argumentou que seria um cativeiro maravilhoso do qual
eles realmente gostariam! "Não deis ouvidos a Ezequias; porque assim diz o rei da Assíria:
Fazei as pazes comigo e vinde para mim; e comei, cada um da sua própria vide e
da sua própria figueira, e bebei, cada um da água da sua própria cisterna. Até
que eu venha e vos leve para uma terra como a vossa, terra de cereal e de
vinho, terra de pão e de vinhas, terra de oliveiras e de mel, para que vivais e
não morrais..." (2
Reis 18:31-32). Basicamente, os assírios estavam dizendo que quando os
israelitas se rendessem e fossem levados ao exílio, eles o achariam um lugar
maravilhoso para viverem. O cativeiro seria mais ou menos uma estada numa
idílica estância de férias.
O diabo ainda tenta fazer o pecado e suas
conseqüências parecerem atraentes. Seu ardil mais velho é negar o castigo pelo
pecado e exagerar os benefícios dele (veja Gênesis 3). Pense nos anúncios da
televisão promovendo bebidas alcoólicas: eles nunca mostram o bêbedo trombando
seu carro, destruindo sua família ou morrendo de doença do fígado; em vez
disso, mostram a glória, o encanto e o prazer. Satanás faz isto com todo
pecado. Ele recorta cuidadosamente a fotografia do pecado para que mostre
somente os aspectos mais atraentes e não revela as amargas conseqüências.
Conforme Pedro escreveu: "prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da
corrupção..." (2
Pedro 2:19).
Solapou a fé
Os assírios buscavam corroer a confiança do povo
no Senhor. "Não
vos engane Ezequias, dizendo: o Senhor nos livrará. Acaso, os deuses das nações
livraram cada um a sua terra das mãos do rei da Assíria? Onde estão os deuses
de Hamate e de Arpade? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Acaso, livraram eles
a Samaria das minhas mãos? Quais são, dentre todos os deuses destes países, os
que livraram a sua terra das minhas mãos, para que o Senhor livre a Jerusalém
das minhas mãos?" (Isaías
36:18-20). Era irônico que Rabsaqué argumentasse deste modo, porque ele tinha
acabado de afirmar que o Senhor era aquele que o tinha enviado a conquistar
Jerusalém. Mentirosos precisam de boa memória!
Satanás quer influenciar-nos a crer que o Senhor
não é confiável, que os meios de Deus não darão certo. Ele sabe que, sem
confiança no Senhor, agiremos independentemente e tentaremos resolver nossos
problemas sozinhos. Não admira que Paulo insistisse que o único meio para apagar
as setas incendiadas do mal é usar o escudo da fé.
Conclusão
Os israelitas se recusaram a dar atenção à
propaganda de Rabsaqué. Eles permaneceram silenciosos em sua presença, depois
se voltaram e oraram pela ajuda do Senhor. O Senhor prometeu que poria um anzol
no nariz dos assírios e os mandaria diretamente de volta a sua casa. E de fato,
uma noite, um único anjo matou 185.000 soldados assírios, incluindo todos os
oficiais, e Senaqueribe decidiu retirar suas tropas. Assim como o Senhor venceu
Senaqueribe, ele derrotará Satanás. Sejamos surdos à propaganda de Satanás e
fiquemos com o vencedor!
Por: Gary Fisher
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