Mateus 27.3-10
registra o remorso de Judas, por ter traído Jesus, entregando-o às autoridades
judaicas. De início, ele tentou devolver as trinta moedas de prata que lhe
haviam sido pagas, para que conduzisse a multidão ao Getsêmane, onde Jesus foi
preso. Mas os sacerdotes e oficiais do templo recusaram-se a aceitar de volta
esse dinheiro, visto ser preço de sangue e, portanto, inadequada como oferta
para Deus. Então Judas atirou a sacola com as moedas no chão da tesouraria do
templo, saiu da cidade e "enforcou-se" (apēnxato — o tempo aoristo, terceira pessoa do singular
de apanchō, verbo usado com esse significado específico a
partir do século V a.C). Isso estabelece o fato de que ele amarrou uma corda ao
pescoço e saltou do galho da árvore onde colocara a outra extremidade da corda.
Em Atos 1.18, o
apóstolo Pedro lembra aos demais discípulos do fim vergonhoso de Judas, e da
vacância que surgiu na fileira dos doze. Outro deveria tomar seu lugar e
preencher a vaga. E Pedro diz-nos o seguinte: "Com a recompensa que
recebeu pelo seu pecado; Judas comprou um campo [chōrion]. Ali caiu de cabeça, seu corpo partiu-se ao
meio, e todas as suas entranhas se derramaram". (Isso pode significar que
Judas já havia combinado com o dono do campo que ele desejava adquiri-lo com o
dinheiro da traição; ou — como parece bem mais provável neste contexto — Pedro
estava falando com ironia, declarando que Judas comprou um pedaço de terra, é
verdade, mas em um cemitério [chōrion pode
significar "campo" ou "cemitério"], isto é, aquele em que
seu corpo sem vida caiu.) Atos 1.18 prossegue dizendo: "... Ali caiu de
cabeça; seu corpo partiu-se ao meio, e suas vísceras se derramaram". O
texto indica que a árvore à qual Judas se pendurara ficava à beira de um
precipício. Se o galho ao qual ele se amarrara e do qual saltara estivesse seco
— e muitos apresentam esse tipo de problema, encaixam se nesta descrição em
nossos dias — erigosamente à beira de um precipício que a tradição identifica
como sendo o lugar onde Judas morreu, bastaria o peso do corpo e o impacto
forte da queda para que o galho se partisse e o corpo de Judas se precipitasse
para o fundo do abismo. Há indicação de que houve forte ventania à hora da
morte de Jesus, que teria rasgado o véu do templo de alto a baixo (Mt 27.51) e
teria ajudado a romper o galho onde Judas se enforcara. Tal tempestade
provavelmente foi acompanhada por um terremoto que estraçalhou grandes rochas,
seguido de trovões estrondosos, que normalmente acompanham os períodos
prolongados de acúmulo de nuvens e escuridão (Mt 27.45). As condições eram
perfeitas para um suicídio que se iniciara por enforcamento e terminou com um
horrendo despedaçamento do cadáver, ao despencar no fundo do precipício.
Por Gleason Archer
Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos
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