Não há a menor dúvida de que as Escrituras condenam a mentira como pecado. Em Levítico 19.11, assim diz o Senhor: "Não furtem. Não mintam". Em Provérbios 12.22 lemos: "O SENHOR odeia os lábios mentirosos, mas se deleita com os que falam a verdade". No NT, Paulo exorta os efésios em 4.25: "Cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo". Essas e muitas outras passagens deixam bem claro que Deus jamais se agrada de pessoas que não falam a verdade.

No entanto, a falsidade, à semelhança de qualquer outro pecado, pode ser totalmente expiada pelo sangue de Cristo no Calvário, desde que o mentiroso esteja convicto em sua consciência de que é culpado e sinceramente se arrependa de sua transgressão. O crente contrito pode apelar para os méritos expiatórios de Cristo e ser totalmente perdoado. O que temos, então, em resumo, são estes princípios a respeito do relacionamento entre Deus e o pecador perdoado: 1) o Senhor sempre condenou o pecado, porque ele colocou a culpa de todas as nossas transgressões sobre seu Filho isento de pecado, quando este morreu pelos pecadores na cruz; 2) o Senhor não aceita os transgressores como participantes de sua redenção por causa de seus pecados, mas por intermédio de sua fé. Até mesmo Abraão pecou quando mentiu a respeito do estado civil de Sara — ele devia ter dito que ela era sua esposa — mas se sentiu compelido a omitir a verdade para evitar o perigo de ser morto por causa dela (Gn 12.12-19). Davi mentiu ao sumo sacerdote Aimeleque quando lhe disse que Saul o havia enviado a Nobe a negócios do reino, quando, na verdade, estava fugindo do rei para salvar a própria vida (1 Sm 21.2).

No caso de Raabe, há alguns fatores especiais que lhe servem de atenuantes, os quais não podem ser negligenciados, ainda que não consigam desculpar-lhe a falsidade. No episódio particular dessa mulher, mentira foi um passo de fé, que colocou sua vida em perigo. Ter-lhe-ia sido mais fácil dizer a verdade e avisar a polícia de Jericó de que ela havia abrigado dois espiões hebreus, os quais estavam escondidos sob as pilhas de cana de linho que secavam ao sol sobre o telhado de sua casa. Todavia, ela havia jurado, aparentemente, aos dois fugitivos, que não os trairia e nem os entregaria aos agentes policiais. O fato é que essa mulher manifestou forte convicção de que as forças israelitas capturariam e destruiriam Jericó, ainda que a todos parecesse, do ponto de vista militar, ser a cidade virtualmente inexpugnável. "O SENHOR, O seu Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Jurem-me pelo SENHOR.. ." (Js 2.11, 12). Era uma mulher de má fama, pagã, de modo que o fato de ela ter atingido essa convicção a respeito do verdadeiro Deus foi uma extraordinária manifestação de fé, muito maior que a demonstrada pelos patriarcas e pelo povo de Israel, que haviam sido criados na verdade a respeito do Senhor. Raabe precisou dar as costas ao seu próprio povo e às tradições culturais em que havia sido criada para tomar aquela decisão definitiva, a de abraçar a aliança que o Todo-Poderoso celebrara com Israel e fazer parte do povo de Deus. Ela literalmente arriscou a própria vida pela causa do Senhor quando pregou aquela mentira aos oficiais de Jericó. Ela poderia facilmente ter sido desmascarada. Um simples espirro ou um movimento involuntário da parte de um dos espiões teria assinalado o destino horrível dessa mulher — bem como o dos espiões. Portanto, devemos reconhecer que havia alguns fatores atenuantes, que minoraram o erro de Raabe.

O compromisso de entrega total que Raabe fez com Iavé, aceitando seu senhorio, fê-la unir-se ao povo de Israel depois da captura de Jericó e sua destruição total (Js 6.17-25). Mais tarde, ela se casaria com Salmom, da tribo de Judá e, assim, tornar-se-ia a mãe de Boaz e ancestral do rei Davi (Mt 1.5, 6). A despeito de seu passado pecaminoso, sua fé lhe foi consignada por justiça, não apenas pelo Senhor como também pelo povo de Deus. Raabe assumiu posição honorífica como ancestral do Senhor Jesus. Em Hebreus 11.31, lemos este tributo à coragem e fé dessa mulher: "Pela fé a prostituta Raabe, por ter acolhido os espiões, não foi morta com os que haviam sido desobedientes". Em Tiago 2.25, o apóstolo elogia a confiança de Raabe como sendo genuína e eficaz, porque ela expressou sua fé e "... Caso semelhante é o de Raabe, a prostituta: não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os espias e os fez sair por outro caminho?".


Extraído da "Enciclopédia de temas Bíblicos", de Gleason Archer

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