Paulo faz cinco referências à lei de Moisés e uma aos profetas, formando um argumento com base na Escritura, de modo que aqueles que afirmavam respeitar a Lei tinham que aceitá-lo. Ele faz uma comparação entre a fé (3.6-9; 14) e as obras resultantes da prática da Lei (3.10-13), da mesma forma que em 3.5. Há duas interpretações principais para esta passagem: a primeira é de que os cristãos gentios criam como Abraão (a posição tradicional, seguida aqui) e a segunda, de que eles seriam salvos pela fé de Abraão (como no judaísmo), e consequentemente pela fé em Cristo, ou seja, pela fidelidade de Abraão e de Cristo à aliança.
3.6. Paulo cita Gênesis 15.6, um texto bastante conhecido no judaísmo, para demonstrar como Abraão era um exemplo de fé. Paulo apresenta uma interpretação diferente daquela aceita pela tradição judaica.
3.7. O povo judeu empregava a palavra “filhos” tanto no sentido literal (descendentes biológicos) como no sentido espiritual (os que se conduziam de acordo com os ensinamentos de seus antigos mestres). O título “descendência de Abraão” (ou “filhos de Abraão”) era geralmente aplicado ao povo judeu, mas algumas vezes referia-se especificamente àqueles que excediam em justiça – se bem que o povo judeu nunca aplicasse esta designação aos gentios. Paulo demonstra aqui que aqueles que criam como Abraão eram seus descendentes espirituais (Gn 15.6, citado em Gl 3.6).
3.8, 9. Se os gentios podiam crer como Abraão (3.7), eles também poderiam ser justificados da mesma maneira como ele foi justificado. (Os mestres judeus consideravam Abraão um exemplo de conversão ao judaísmo, portanto seriam forçados a respeitar os argumentos de Paulo mais do que gostariam). Como bom expositor judeu, Paulo prova sua argumentação nesta passagem referindo-se a um outro texto relacionado à promessa feita a Abraão (Gn 12.3 = 18.18; cf. 17.4, 5; 22.18). O propósito de Deus, desde o princípio, era alcançar também os gentios, como já havia sido predeterminado no início da narrativa de Abraão. No modo de pensar judaico, os justos (Israel) eram salvos em Abraão; Paulo afirma aqui que os cristãos gentios são salvos (abençoados) junto com Abraão.
3.10. Tanto Gênesis 12.3 como as bênçãos da obediência encontradas em Deuteronômio 28 estabelecem um contraste entre as maldições recebidas por aqueles que se opõem a Abraão ou quebram a aliança e as bênçãos recebidas pelos descendentes de Abraão ou por aqueles que guardam a aliança. O raciocínio dos adversários segue o padrão normal de interpretação judaica. Paulo desta maneira apresenta seu veredicto sobre a justificação baseada nas “obras da Lei” (ARA) ou na “prática da Lei” (NVI): obediência parcial resulta em maldição (Dt 27.26, a síntese das maldições). De acordo com o ensino judaico, a obediência humana foi sempre incompleta, e Deus poderia, portanto não exigir uma obediência completa como condição para a salvação; mas como bom rabino, Paulo interpreta Deuteronômio 27.26 de maneira a obter tudo que está contido neste texto – afinal, Deus estava em posição de exigir perfeição.
3.11. Paulo cita Habacuque 2.4 (ver comentário em Rm 1.17) para provar que a justificação baseada apenas na obediência humana é inadequada. Paulo demonstra conhecer profundamente o Antigo Testamento ao selecionar os dois únicos textos ali presentes que tratam tanto da justificação como da fé: Gn 15.6 (citado em 3.6) e Hc 2.4 (citado aqui).
3.12. Como Habacuque 2.4 estabelece o vínculo entre justificação e vida, Paulo cita outro texto do Antigo Testamento relacionado a ambas, novamente demonstrando sua destreza na exegese judaica (os mestres judeus normalmente relacionavam os textos com base nas palavras-chave encontradas neles). Paulo apresenta o contraste entre o método baseado na fé (3.11) e o método firmado nas obras, apresentado em Levítico 18.5 (ver Êx 20.12, 20; Lv 25.18; Dt 4.1, 40; 5.33; 8.1; 30.16, 20; 32.47; Ne
9.29; Ez 20.11, 13; 33.19). Embora estes textos do Antigo Testamento prometam uma vida longa na terra prometida, Paulo sabia que muitos mestres judeus aplicavam estes textos à vida futura, por isso ele responde: “Este é o método baseado nas obras”. Os adversários de Paulo talvez tenham usado este texto para firmar seus argumentos de que só a fé não era suficiente. Paulo concorda que a justiça baseada na lei tem que ser cumprida, mas ele crê que essa justiça é cumprida em Cristo e pelo viver através de seu Espírito (5.16-25); já seus adversários acreditavam que o gentio seria justificado obedecendo aos pormenores da lei, especialmente o ato inicial da circuncisão.
3.13. Paulo novamente emprega o recurso de ligar os textos do Antigo Testamento de acordo com as palavras-chave que têm em comum e cita Deuteronômio 21.23 para mostrar que Cristo se tornou “maldição” no lugar de todos os que deixaram de cumprir integralmente a Lei (Gl 3.10).
3.14. Na perspectiva judaica “a bênção de Abraão” incluía o mundo inteiro por vir; Paulo aqui diz que os crentes se livraram da maldição deste mundo (Ef 1.3, 13, 14) pela bênção do Espírito (Is 44.3). (Sobre esta relação entre a promessa da terra e a promessa do Espírito, compare também Ag 2.5 com Êx 12.25; 13.5.)
Craig S. Keener
Fonte: Comentário Bíblico Atos: Novo Testamento, 544-546
3.6. Paulo cita Gênesis 15.6, um texto bastante conhecido no judaísmo, para demonstrar como Abraão era um exemplo de fé. Paulo apresenta uma interpretação diferente daquela aceita pela tradição judaica.
3.7. O povo judeu empregava a palavra “filhos” tanto no sentido literal (descendentes biológicos) como no sentido espiritual (os que se conduziam de acordo com os ensinamentos de seus antigos mestres). O título “descendência de Abraão” (ou “filhos de Abraão”) era geralmente aplicado ao povo judeu, mas algumas vezes referia-se especificamente àqueles que excediam em justiça – se bem que o povo judeu nunca aplicasse esta designação aos gentios. Paulo demonstra aqui que aqueles que criam como Abraão eram seus descendentes espirituais (Gn 15.6, citado em Gl 3.6).
3.8, 9. Se os gentios podiam crer como Abraão (3.7), eles também poderiam ser justificados da mesma maneira como ele foi justificado. (Os mestres judeus consideravam Abraão um exemplo de conversão ao judaísmo, portanto seriam forçados a respeitar os argumentos de Paulo mais do que gostariam). Como bom expositor judeu, Paulo prova sua argumentação nesta passagem referindo-se a um outro texto relacionado à promessa feita a Abraão (Gn 12.3 = 18.18; cf. 17.4, 5; 22.18). O propósito de Deus, desde o princípio, era alcançar também os gentios, como já havia sido predeterminado no início da narrativa de Abraão. No modo de pensar judaico, os justos (Israel) eram salvos em Abraão; Paulo afirma aqui que os cristãos gentios são salvos (abençoados) junto com Abraão.
3.10. Tanto Gênesis 12.3 como as bênçãos da obediência encontradas em Deuteronômio 28 estabelecem um contraste entre as maldições recebidas por aqueles que se opõem a Abraão ou quebram a aliança e as bênçãos recebidas pelos descendentes de Abraão ou por aqueles que guardam a aliança. O raciocínio dos adversários segue o padrão normal de interpretação judaica. Paulo desta maneira apresenta seu veredicto sobre a justificação baseada nas “obras da Lei” (ARA) ou na “prática da Lei” (NVI): obediência parcial resulta em maldição (Dt 27.26, a síntese das maldições). De acordo com o ensino judaico, a obediência humana foi sempre incompleta, e Deus poderia, portanto não exigir uma obediência completa como condição para a salvação; mas como bom rabino, Paulo interpreta Deuteronômio 27.26 de maneira a obter tudo que está contido neste texto – afinal, Deus estava em posição de exigir perfeição.
3.11. Paulo cita Habacuque 2.4 (ver comentário em Rm 1.17) para provar que a justificação baseada apenas na obediência humana é inadequada. Paulo demonstra conhecer profundamente o Antigo Testamento ao selecionar os dois únicos textos ali presentes que tratam tanto da justificação como da fé: Gn 15.6 (citado em 3.6) e Hc 2.4 (citado aqui).
3.12. Como Habacuque 2.4 estabelece o vínculo entre justificação e vida, Paulo cita outro texto do Antigo Testamento relacionado a ambas, novamente demonstrando sua destreza na exegese judaica (os mestres judeus normalmente relacionavam os textos com base nas palavras-chave encontradas neles). Paulo apresenta o contraste entre o método baseado na fé (3.11) e o método firmado nas obras, apresentado em Levítico 18.5 (ver Êx 20.12, 20; Lv 25.18; Dt 4.1, 40; 5.33; 8.1; 30.16, 20; 32.47; Ne
9.29; Ez 20.11, 13; 33.19). Embora estes textos do Antigo Testamento prometam uma vida longa na terra prometida, Paulo sabia que muitos mestres judeus aplicavam estes textos à vida futura, por isso ele responde: “Este é o método baseado nas obras”. Os adversários de Paulo talvez tenham usado este texto para firmar seus argumentos de que só a fé não era suficiente. Paulo concorda que a justiça baseada na lei tem que ser cumprida, mas ele crê que essa justiça é cumprida em Cristo e pelo viver através de seu Espírito (5.16-25); já seus adversários acreditavam que o gentio seria justificado obedecendo aos pormenores da lei, especialmente o ato inicial da circuncisão.
3.13. Paulo novamente emprega o recurso de ligar os textos do Antigo Testamento de acordo com as palavras-chave que têm em comum e cita Deuteronômio 21.23 para mostrar que Cristo se tornou “maldição” no lugar de todos os que deixaram de cumprir integralmente a Lei (Gl 3.10).
3.14. Na perspectiva judaica “a bênção de Abraão” incluía o mundo inteiro por vir; Paulo aqui diz que os crentes se livraram da maldição deste mundo (Ef 1.3, 13, 14) pela bênção do Espírito (Is 44.3). (Sobre esta relação entre a promessa da terra e a promessa do Espírito, compare também Ag 2.5 com Êx 12.25; 13.5.)
Craig S. Keener
Fonte: Comentário Bíblico Atos: Novo Testamento, 544-546
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